quinta-feira, 29 de julho de 2010

Continuando...

-Agora somos iguais,não somos?
-Poxa vô, a gente tinha que transar para o senhor pegar AIDS-informei.
-Verdade?
-É...
-Você ainda está com as camisinhas que eu te dei?
-Claro.
-Então traga.Depois de você,seus pais e eu conversarmos seriamente sobre a sua doença,talvez eu possa satisfazer os seus desejos.
-Que é isso vô!
-Larga de ser besta comigo,rapaz.Nós temos muito o que conversar.
Fomos para a sala.Papai e mamãe estavam esperando por mim.
Vovô pediu que sentássemos,no início,apenas ele falou.
Mencionou o fato de eu estar enfrentando toda aquela situação sozinho e que era sob tais circustâncias que a familia tinha de se unir para ajudar-se muntualmente.
-Não é facil para ninguem saber que um amigo ou um parente está com esse vírus,mas fica ainda mais difícil quando cada um prefere sofrer sozinho ou fugir do problema como se ele pertencesse apenas àqueles que contraiu o vírus.
Pouco a pouco,cada um foi falando.
Meu pai foi mais prático .Falou no AZT.
-Ele é caro,mas é o antiviral mais eficiente para manter em dia suas defesas imunológicas.É claro que,como todo remédio,ele tem lá seus efeitos colaterais,mas ainda é melhor e o mais indicado para o tratamento.Nós vamos ganhar essa batalha,filho.Tem muita gente pesquisando a AIDS no momento e ,mais dia menos dia,alguém descobre a cura para a coisa.É sempre assim.A lepra foi flagelo do mundo durante séculos,mas hoje é curavel,perfeitamente curavel.A siflis e a turbeculose provocavam as mesmas reações das pessoas há pouco mais de cinquenta anos.Era quase uma condenação à morte.E hoje em dia...
Eles continuaram falando.Os três,papai,mamãe e vovô.Alívio era mais verdadeiro e confiável do que entusiasmo ou esperança.Todos estavam procurando me deixar à vontade,recuperar um tempo perdido em autocomiseração e sofrimento.
-Eu ainda tenho muito medo,Tinho. -admitiu Helô sem conseguir esconder seu constrangimento. -Eu não sei como lutar contra isso.Eu tentei,tentei...mas é algo mais forte tão...tão..tão...
-Humano?-contrapus.
Ela me abraçou carinhosamente,chorando.
-Desculpe-me...desculpa-me...mas eu tenho muito medo!
-Afastei-a e sorri,compreensivo.
-Eu também,mana,eu também...
Nós ainda conversamos por um bom tempo.Quando não havia mais nada a se conversar e sobre o que falar,meu avô me acompanhou de volta ao meu quarto.
-Você pode fechar-la de uma vez por todas ou resolver os problemas de frente agora em diante-disse ele,apontando para a porta-A decisão é só sua!
É,eu fiquei sozinho com minha decisão.
-Recusa apenas lamentar a morte-acrescentou,enquanto se afastava-Nós dois sabemos que é perda de tempo.
Eu resolvi parar de ter pena de mim mesmo.Deixei a vergonha de lado-afinal de contas,eu tinha AIDS,e daí?Não era culpa minha.Não era motivo para eu ficar me culpando por um crime que não havia cometido e,pior,do qual era a principal vítima.Agarrei-me com forç e até com desespero a toda coragem que pude encontrar e enfrentei o primeiro teste de verdade.
Fui para o colégio.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Recusa Apenas Lamentar A Morte.


"Meu grito em todos os gritos.Dor alheia doendo em mim." - Infinito Presente - Helena Kolody

Esperar pela morte sempre foi e sempre será algo doentio.Eu sabia.Meus pais sabiam.Todos sabem.
Mas era algo mais forte do que eu.Eu simplesmente não sabia como resistir à inevitabilidade do meu fim.Nem mesmo sabia se queria faze-lo.
Tudo me cansava e aborrecia.Até mesmo vovô volta e meia ouvia um desaforo meu.Teimoso e obstinado,vivia insistindo para que eu saísse do meu quarto e voltasse a viver,a ser eu mesmo.
-O senhor deve estar brincando-disse,em tom melancólico.
Noutra vez,eu praticamente o expulsei de meu quarto quando ele apareceu com um cartão de um psiquiatra que andava oferecendo acompanhamentos psicológicos para aidéticos e para portadores do vírus da AIDS.
-Eu não preciso de nada! - berrei.
-Eu só preciso que me deixem em paz!Paz,ouviu bem?Eu só quero paz,um pouco de paz!
-Porque você não para de ficar sentindo pena de si mesmo e cai na vida novamente,rapaz?-perguntou-Nada que você fizer ou deixar de fazer vai contar muito no que quer que venha acontecer.
Bati a porta na cara dele.O troco foi imediato:
-Farabutto!
Muitas vezes eu realmente pensei em deixar meu quarto.Ir além dos limites melanólicos e nervosos de minha casa.Descer a rua e correr ao encontro da vida-não importa quanto isso significasse em dias,meses ou anos- e de tudo que havia de bom naquela vida eu abandonara alguns meses atrás.
Sempre que eu pensava nisso,acabava desistindo.Era inevitável encontrar o temor e o constrangimento mal disfarçado da minha irmã,os sorrisos nervosos e os olhos chorosos de minha mãe, a curiosidade que algo se transformava em preconceito e hostilidade pelas ruas,no colégio,onde quer que eu fosse.Eu duvidava que tivesse força bastante para suportar tanto.Preferia a segurança e a solidão do meu quarto,ora folheando livros e revistas sobre o assunto,ora folheando os albúns com as lembranças de um passado que,a cada dia que passava,parecia estar anos-luz de mim.Uma quase irrealidade.
Nem sei quantas vezes disse para mim mesmo que o Mister Aventura estava morto e sepultado.Eu repetia e repetia e,quanto mais eu repetia,mais eu resistia aquela possibilidade sombria.De vez em quando, a vontade de retornar ao passado era tal maneira irresistível que eu saía de casa escondido,empurrava minha Sahara alguns metros rua acima e saía voando pela cidade.
Eu voltava antes que meu pai ou minha mãe acordassem.Evitava o temor nos olhos de Helô.
Sempre que papai e mamae apareciam no outro lado da porta,insistindo para que eu saísse,encontravam a mesma resposta:
-Eu não quero ter ninguém em minha consciência,mãe.Ou: - Eu sei muito bem o que me espera lá fora,pai.
No fundo,no fundo, era apenas medo.Não que eu nao me preocupasse em passar a doença para outra pessoa.Isso andava zanzando por minha cabeça dia e noite.Depois do susto que levei pensando que Laurinha estava infectada prometera para mim mesmo que me cercaria de todos os cuidados para não acabar infectando acidentalmente qualquer pessoa.
Era o medo e a vergonha,o temor de sempre presente de ser reconhecido e apontado nas ruas.
Eu poderia ter uma vida normal, basta tomar alguns cuidados- numa transada,colocar uma das várias camisinhas que meu vovô insistira em me dar,mesmo eu garantindo que não ia transar com ninguém.
Mas de qualquer forma, não conseguia sair do meu quarto.Os meus pais aceitaram mina decisão mas vovô não.
O velho patriarca da familia Parma andava de um lado para o outro louco de raiva.
-Aquele rapaz ainda não tem vinte anos!-berrava louco de raiva.
-Não deveria ficar enfurnado dentro daquele quarto,mas la fora,vivendo a vida.
-Que vida,pai?-Perguntava meu pai,um pouco cansado.
-Ele ainda não morreu,Fernando.Eu aindei lendo sobre a coisa e isso demora.Muitas vezes demora mais de cinco anos antes que os primeiros sintomas apareçam.
-Mas eles aparecem...-choramingou minha mãe.
-Vilma...E você acha que o garoto deve ficar esse tempo todo dentro daquele quarto esperando que eles apareçam?
Não demorou muito para ele aparecer na porta do meu quarto.Nenhuma das minhas razões para não sair o convenceu.O velho Mauricio Parma era realmente um osso duro de roer.Ele escasquetara que me tiraria daquele quarto e moveria céus e terra para consegui-lo.
Foi o que fez.
-Me deixe em paz vô!-gritei-Eu queria ficar sozinho.Se eu infectar alguém...
-Que infectar droga nenhuma,rapaz!Vamos abre logo isso ou eu...Eu vou arrombar essa porta!
-Eu abri porque sabia que ele realmente ia arrombar a porta.
Quando vovô entrou,recuei,preocupado.
-O que você tem,rapaz?Eu não mordo!
-Se disso vô...
-Então chega mais perto.Chega mais perto e me dá um beijo, como você fazia antigamente...
-Ahn,vô...
-Mas ,mas que história é essa de "ahn,vô"?Vem aqui e dá um beijo no seu avô.
-Olha,vô,eu realmente...
-Inesperadamente,vovô me agarrou pelo braço e me pxcou para perto dele com força.
-Não!!-Eu gritei apavorado.
Foi inútil.Antes que eu conseguisse esboçar qualquer reação,aquele velho louco estava beijando meus lábios.Quando me soltou,estava rindo-não sei se foi da própria loucura ou se foi da minha cara.
-Pronto,rapaz!Agora eu também estou infectado.Será que agora podemos conversar?

terça-feira, 27 de julho de 2010

Decepção


"Estou vivo na luz que baixa e me confunde" - Claro Enigma - Carlos D. De Andrade.

-O exame dela deu negativo, tinho.
Eu chorei de emoção e alívio quando o pai de Laurinha,depois de eu ficar ligando a semana inteira e ouvindo as mesmas acusações e recriminações da mãe dela,me deu a notícia.
Ela não estava infectada!Ela não estava infectada!
Eu não conseguia parar de chorar.Enquanto o pai dela ia falando e perguntando como eu estava,dizendo palavras animadoras sobre prosperidade mágicas do AZT em deter o avanço da doença, eu só conseguia chorar.
Um peso enorme,simplesmente insuportável,acabava de ser tirado de meus ombros.Ela escapara do contágio.Viveria.
Pedi para falar com ela.Um demorado silêncio calou o pai dela.
-Lamento,rapaz,mas acho que não seria aconselhável.Você compreende,não?Os últimos dias foram muito desgastante para todos.Laurinha anda traumatizada.A mãe dela...quer dizer,nós achamos que não seria aconselhável que vocês voltassem a se falar ou se encontrar.
-Mas...Mas...
-Eu lamento,Tinho.
Desligou.
Ainda contrangido e assustado,voltei a ligar.Foi inútil.Só dava ocupado.Ocupado.Ocupado.Ocupado.
Com certeza,os pais dela tinham tirado o telefone do gancho.Fiquei um pouco mais só em minha melancolia.
Desisti de ligar para ela.Sempre que eu ligava,era o pai ou a mãe dela que atendiam e os dois não permitiam que eu sequer deixasse recado.Apenas uma vez eu tive a impressão de que a Laurinha atendeu.Eu falei,chamei por ela,disse que a amava que precisava vê-la.Que estava morrendo de saudades.
Desligaram.
Primeira decepção.
Infelizmente,não foi a última.Ocorreram outras.Algumas bem dolorosas.
O medo faz coisas bem estranhas com as pessoas.Elas se tornam impiedosas e mais suscetíves à mesquinhez do primeiro eu.
A minha turma sumiu.Mesmo quando eu ligava para eles,ouvia a mesma desculpa de sempre.
Eles não estavam.
Tinham acabado de sair.
Foram para a escola.
Terminam sempre com um infalível quer deixar recado?
Eu deixava.
Dizia quem era.Pediam que eles ligassem para mim.
Eles jamais ligaram.Sumiram.
Só depois de alguns dias,eu fiquei sabendo que todos da escola já sabiam que eu estava com AIDS.Parei de ligar para quem quer que fosse.
Estava cansado de ouvir desculpas.
O preconceito começou a aparecer de várias maneiras,mas quase sempre cruel e injustificado.Obra da grande ignorância da maioria sobre o assunto.
O pessoal da tinturaria não queriam mais lavar nossas roupas.Como sempre,e como outros tantos haviam deito antes deles,inventaram uma desculpa.Algo como mudança de endereço ou reforma da loja.Tanto faz.Era mentira mesmo.
A maioria dos vizinhos sumiu como que por encanto.Não sentimos tanto.Alguns realmente eram bem desagradáveis.A dona Irene,a fofoqueira numero 1 da rua,foi a primeira a desaparecer.Também era dela a verão mais original sobre a forma como eu contraí a doença.
Ela jurava de mãos e pés juntos que fora o alfinete do brinco que usava na orelha esquerda o causador da minha desgraça.
-Todo mundo sabe que quem vende esses brincos no bairro é o Cecílio,aquela bicha louca do 417.Não doi lá que o pobre do Tinho comprou o brinco,não foi?
Eu bem que podia ter dito que AIDS não é gripe e ninguém contrai a coisa tão facilmente.Você não pega AIDS colocando um brinco.Nem beijando alguém.Muito menos sentando-se num vaso sanitário.Aperto de mão e abraço podem causar ate dor e cansaço,dependendo de quem dá um e outro,mas não transmitem AIDS.Suor e lágrima também não.
Deixei para lá.
Por mais que eu ou qualquer outro falasse,fazer com aquela gente ouvisse e,mais,acreditasse era algo bem diferente e difícil.
Certa vez, a coisa azedou entre eu e dona Irene.Como ela não parasse de falar e fofocar,eu cheguei bem perto dela - vocês precisavam ver o branco do rosto dela : melhor que o do Omo - e afirmei:
-A senhora também está com AIDS, sabia, dona Irene?
A dentadura quase caiu da boca.
-Eu?
-É dona Irene...e do pior tipo,sabia?AIDS mental!Isso mata e começa exatamente quando a língua do doente começa a ficar sapecada e dar sinais que vai cair.
Bom,se ela acreditou ou não,eu não sei,mas o fato é que ela nunca mais apareceu lá em casa e eu posso até estar enganado,mas juro que vi a fofoqueira examinando a língua com muita atenção enquanto saía para salvar a panela que deixara no fogo.
Volte e meia,geralmente o pessoal do colégio,ligando para mim.Queriam saber mais.Claro,eles não diziam isso.Ninguém dizia.
No começo era quase sempre palavras de consolo.Apoio intransigente e indignação contra a onda de preconceitos que cercava a mim e à minha familia. Eu sabia muito bem o que era isso ,pois até Helô,a minha irmã,andava pelos cantos,me evitando ou sempre encontrando uma maneira gentil,mas mesmo assim dolorosa,de fugir de mim.
Em seguida,uns dois ou três minutos depois,começavam as perguntas:
-De grupo você é?
-Acho que do grupo 2 e você?
-Eu?De nenhum,claro!
-Ahn, claro..olha,se você estiver tão interessado,eu posso te apresentar um amigo com infecção aguda pelo HIV;como você sabe este é o grupo 1.Mas também tem outros,3 com linfadenopatia,ou seja,os gâglios deles aumentaram generalizamente.Tem também do grupo 4.Esses realmente estão numa podre.
Qual você quer primeiro,seu curioso?
O curioso acabava desligando,chegando a conclusão que AIDS também enlouquecia as pessoas um pouquinho.
Entre um curioso e outro,sabe que a escola tentara impedir meu pai de fazer minha matrícula?!Claro, desculpas não faltaram.Acontece que meu pai não estava sozinho.Meu avô estava junto e,no que começou o rol das desculpas esfarrapadas por parte do pessoal da secretaria,o velho professor de História Maurício Parma foi ficando vermelho e, no que ficou vermelho, a raiva foi aparecendo em seus olhos brilhantes e,naquele momento,selvagens.
Ninguém mais abriu a boca depois que ele começou a falar.O velho tinha realmente o dom da oratória.
Juntou gente e,depois de muita confusão,ele saiu triunfante da secretaria com a minha matrícula.
Não quis desanimá-lo,mas sinceramente eu não estava nem um pouco interessado em estudar ou em qualquer outra coisa.
Estudar para quê?
Até quando?
Agradeci.
A minha decepção era tão grande que eu não pude ir mais longe.Naquda além de um frio agradecimento.

Continuando...


Muitas vezes eu confundia os sintomas de um doente de AIDS com os de alguém infectado com o vírus da AIDS.Parece a mesma coisa mas não é.

Uma pessoa atingida pelo vírus da AIDS,o chamado HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), pode permanecer assintomática,apresentar sinais e sintomas parecidos com uma infecção tipo viral aguda,manifestar um quadro clínico inespecífico como gânglio aumentados,febre persistente,diarréia prolongada e emagrecimento importante sem uma causa direta a que possa ser atribuído e,finalmente,apresentar-se com doença neurológica (encefalopatia),infecções graves e determinados tipos de câncer,em estágios da doença.

Mas tudo era muito confuso para mim.Às vezes, os sintomas de doenças simples como gripe ou bronquite podem ser confundidos com um doente de AIDS.Aos poucos,no entanto,eu fui me tornando um especialista.
Por exemplo,na AIDS tais sintomas são persistentes.Esta é a pequena mas significativa-bota significativa nisso-diferença.Além do mais,um sintoma isolado não significa que o sujeito esteja com AIDS.
Uma pessoa infectada com o vírus muitas vezes não apresenta sintoma algum,sente-se muito bem.Talvez fosse o meu caso,talvez não.
Santa dúvida,Batman!
Eu lera em uma revista que as pessoas que ainda não tinham desenvolvido a doença eram clinicamente sadias.Levavam até uma vida normal,trabalhando,estudando e se divertindo.
Talvez a comparação mais aproximada da existência seja com a daqueles condenados à morte que ficam até anos presos nas celas do "corredor da morte",esperando a sua hora.
Apesar de tudo,a situação era altamente desconfortável.Saber que se vai morrer,e não saber quando,é algo extremamente doloroso.
Como fazer planos para o futuro?
Como encontrar ânimo para,por exemplo,fazer uma prova de vestibular?
Como se relacionar com o preconceito e os temores das pessoas?
É uma coisa assustadora.
60% dos portadores da AIDS manifestam a doença até seis anos depois de contrair o vírus e 40% conseguem um pouco mais de tempo,carregando-o por nove ou mais anos,sem apresentar sintomas.Apesar disso,70% dos aidéticos brasileiros morrem até dois anos depois de manifestar os primeiros sintomas da moléstia.
Eu ficava lendo tudo isso,estatísticas,números frios mas inquestionáveis,e ia sucumbindo vagarosa mas inapelavelmente ao meu próprio fim.
Alguns diziam que isso era pior.A depressão,a melancolia serviam apenas para apressar as coisas.
Não sei,não,mas muitas vezes pensei nisso.Bastava eu ver aquelas fotos terríveis de aidéticos em estado terminal,para eu me apavorar e preferir qualquer coisa àquilo.
Até mesmo o suicídio.
É, foram meses verdadeiramente selvagens,de solidão opressiva e angústia interminável.
Certa vez,cheguei a pegar um vidro de tranquilizantes que minha mãe passara a tomar,desde que soubera que eu contraíra AIDS, e pensei em engolir uma quantidade boa de pílulas.Eu tinha acabado de ler que um cara em Los Angeles tinha feito isso depois de saber que estava com AIDS e morrera bem rapidamente,praticamente sem dor.Acabei desistindo.Não sei porque.Eu simplesmente não consegui.
Noutra vez,como eu andava procurando algo ou alguém colocar a culpa pela minha desgraça,quebrei minha Sahara.Eu dei uma bela acelerada e a joguei contra o muro do vizinho.Depois,percebendo que aquilo não me levaria alugar nenhum,pior,que não me curaria,fiquei olhando para ela,chorando como um bobalhão.
Minha nossa, como eu sofri!

Os Meses Selvagens.


"O corpo de um torturado escava através de séculos sua intensidade de morte e dor.Mas Deus,para quem não existe história,como pode suportar o horror de um momento único onde só o que muda é a boca que grita?" - A História - Vera Lucia De Oliveira.

Depois daquele dia,eu corri desesperadamente para dentro de mim mesmo.Escondi-me em meu quarto e raramente eu saía.Eu ainda não acreditava.
Dois dias depois,quando o médico voltou ao meu quarto,lembro-me bem o que disse:
-O senhor deve estar enganado,doutor.Eu não posso estar com AIDS.Isso é doença de bicha e eu não sou bicha nem nunca transei com um.
Foi pior.
O médico falou-me mais sobre a AIDS.Me deu alguns folhetos e explicou que essa história de que AIDS era doença de homossexual não passava de uma das muitas idéias errôneas que cercavam a doença.
Não, AIDS não era doença apenas de homossexual.Era bem verdade que eles faziam parte do chamado grupo de risco,pessoas mais propensas a contrair a doença,mas além dos homossexuais masculinos havia os viciados em drogas injetáveis,crianças nascidas de mães infectadas,heterossexuais que transavam com pessoas infectadas e prostitutas.Também havia aqueles que eram obrigados a receber transfusões de sangue,como os hemofílicos.
Fora o que acontecera comigo.
Enquanto ele falava,eu me lembrei do acidente com a moto nova,dois anos antes,e das transfusões de sangue que eu recebi enquanto estive no hospital.Ele me garantiu que fora daquela maneira que contraíra a doença.
Depois que saí do hospital,passei a ler tudo o que se relacionava com a doença.Queria saber mais e mais,desesperadamente,como que procurando algo-um folheto,um livro,uma matéria numa revista qualquer-que pelo menos acenasse para mim com a possibilidade mesmo que remota,de cura para o meu mal.Eu comemorava até a menor notícia de progressos.
Eram meu pai e meu avô que traziam os livros,revistas e folhetos para mim.Minha mãe não tinha coragem.Sempre que nos encontrávamos,e isso ocorria quase que exclusivamente à mesa de almoço e jantar,ela acabava chorando.
Eu lia tudo e, muitas vezes,chegava a decorar o que lia.
O folheto do Centro de Hematologia de São Paulo foi um dos primeiros que li.No início, eu ainda lia com uma certa descrença,como se,apesar de tudo,fosse difícil para mim acreditar que eu ainda estava com AIDS.Inconformado,cheguei a fazer um novo exame.Acabei ficando ainda mais deprimido quando ele deu positivo.
Resignei-me com o fato de que não havia muita coisa a fazer e entreguei-me à mais profunda melancolia.Desinteressei-me por tudo.Tornei-me revoltado e,certo dia,quebrei tudo em meu quarto,atirando os troféus pela janela,rasgando velhas fotografias de glórias ainda recentes.Glórias inúteis.Pela primeira vez em muitos anos, Mister Aventura chorou amargamente.
Parei de ir à escola.Nada me assustava mais do que a idéia de que cedo ou tarde,alguém viesse a saber que eu tinha AIDS.A vergonha seria grande demais para eu suportar.Eu não aguentaria ser olhado com desconfiança e certamente brigaria se alguém comecasse a pôr na cabeça que eu era gay.
Tranquei-me em meu quarto.Quanto mais eu lia sobre a AIDS,mais eu queria ficar trancado em meu quarto.Não suportava mais as lágrimas angustiadas de minha mãe e a indulgência exagerada de meu pai.Preferia a solidão.
Foram os piores meses de minha vida.Meses verdadeiramente selvagens.Vez por outra,eu me via prisioneiro de pesadelos terríveis.Então me via magro,extremamente magro,o corpo avermelhado e coberto de cânceres como a sarcoma de Kaposi,os olhos fundos nas órbitas e destituídos de qualquer brilho.Noutro,eu me via gânglios enormes e vítimas de uma diarréia interminável.Um verdadeiro inferno.
Num deles, vi Laurinha e eu juntos na mesma cama,magros e inteiramente vitimados pela AIDS.Eu acordei gritando seu nome,suando e gritando.
Laurinha...
Laurinha sumiu misteriosamente depois que eu descobri que estava com AIDS.Não ligava.Não me procurava.Desapareceu.Simplesmente desapareceu.
Depois de mais de uma semana de silêncio,liguei para ela me encontrasse em minha casa no dia seguinte.
Eu não sei examente como foi ou o que foi, mas, assim que ela apareceu na minha frente-abri a porta e vi todo constrangimento do mundo,um grande temor em seus olhos-senti que ela sabia.
Não quis acreditar.
Laurinha sabia?
Se sabia e me amava como dizia, por que fugia?
Será que afinal de contas ela descobriria que não me amava tanto assim?
Dúvidas.Dúvidas demais.
Fiquei meio sem jeito,conversando com ela a distância,com medo de contar,mas,principalmente,de perguntar se ela sabia que eu estava com AIDS.Laurinha acabou facilitando as coisas para nós dois quando eu tentei abraça-la e beija-la e ela recuou,horrorizada,gritando:
-Não!
Ela sabia.
Olhei para ela.Pensei em explicar tudo com muita calma para não assusta-la.Talvez até recitasse muitas das palavras dos vários livros e folhetos que lera nas últimas semanas sobre a AIDS.
Não consegui.
Diante do olhar persistente de Laurinha,do horror que vi neles,eu só consegui dizer:
-Eu tenho o vírus da AIDS,Laurinha...
-Ai meu Deus!-completamente transtornada,Laurinha começou a soluçar e chorar incontrolavelmente,os olhos fitos em mim.
-Laurinha...-tentei me aproximar e abraça-la.
Ela recuou,horrorizada.Foi embora com uma despedida nos olhos marejados de lágrimas.De certo modo já esperava por aquilo,mas,de qualquer forma,doeu e doeu muito.
Abandonado.
Eu me senti completamente abandonado.
Até a pessoa que eu amava,e que se dizia apaixonada por mim,fugia de mim.
A melancolia aumentou.Sentia-me mais frequentemente confuso e assustado diante das minhas dúvidas.
A culpa foi inevitável.
Eu não conseguia dormir.Mal fechava os olhos e via Laurinha extremamente magra,inconfunfuvelmente aidética,acusando me...
A culpa é sua...a culpa é sua...
Eu ligava para ela e nunca encontrava em casa.Queria explicar que não havíamos tido qualquer contato que possibilitasse a infecção.Não que eu não tivesse tentado,admito,mas Laurinha lá com suas idéias sobre sexo e virgindade e se agarrava a elas com unhas e dentes.
Nunca pensei que ainda agradeceria por ela ser daquela maneira.
Certo dia,a mãe dela atendeu e,assim que ouviu minha voz,resmungou:
-O que você quer com ela?Quer passar essa doença para a minha filha?
Uma bofetada não doeria tanto quanto a agressividade que entrevi na voz dela.Sem saber o que dizer,continuei ouvindo,ouvindo,ouvindo até que ela,depois de desabafar e enquanto começava a chorar, desligou.
Refugiei-me mais e mais em meu quarto.Passava dias inteiros lendo os mesmos livros e revistas.
Noutras vezes, eu me revoltava com tudo e com todos.Culpava meio mundo por minha desgraça;
O motorista do fusca que abirra a porta contra a qual eu e minha moto havíamos nos chocado quase dois anos antes.Os médicos que fizeram as transfusões...
Por que eu?
A pergunta não saía da minha cabeça.
Desorientado,vez por outra louco,me sentia antes de tudo envergonhado.Por mais que eu falasse e que a maioria das pessoas que me conheciam soubesse,sempre ficaria ali uma pontinha de dúvida.
Os comentários e boatos se multiplicariam à minha volta quando todos soubessem.Só de pensar em tal possibilidade, eu me apavorava.
E os sintomas?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Como É Que É?


"Na madrugada sem papo chuto uma pedra e era um sapo." - A Sublime Deriva - Rollo Resende.

Eu ainda estava beijando,apaixonado,presa fácil de seus carinhos e de seus sorrisos - Ahn, como Laurinha sorria bonito,com aquele jeito doce que tornava qualquer palavra totalmente desnecessarioa- , quando o primeiro trovão estrondeou no alto da serra e a chuva veio descendo a floresta em nossa direção.
Corremos,mãos dadas, nos divertindo com a chuva que caía,forte e inesperada,molhando nossas roupas, os corpos que, volta em meia,esquecidos de tudo,paravam e se encontravam em abraços apaixonados.
Ahn, como éramos felizes...
Nós dois ficamos ali,abraçados,beijo pra lá,beijo pra cá,esquecidos da vida,completamente encharcados pela chuva,até que o pessoal do acampamento apareceu.Passamos o resto do dia juntinhos na barraca,os ouvidos ardendo de tanto ouvir bronca e recriminação.
Espirrei.ela também.Passamos a noite inteira espirrando.Achando toda aquela história,a começar pela exagerada preocupação dos outros,muito engraçada.
Riamos muito.
Choveu o fim de semana inteiro e quase todo mundo reclamou da falta de sorte,menos eu.Pela primeira vez desde que nos conheceramos, Laurinha e eu pudemos ficar sozinhos.Nem os pais dela nem os meus entre nós.
Foi, sob todas as formas,um fim de semana inesquecível.
A emoção de um primeiro beijo na solidão do mato.O coração dela batendo tão forte enquanto o meu,encostado no meu peito.Aquele banho na cachoeira,corpo contra corpo,um interminável e delicioso turbilhão de prazer.
-Seria tão bom se isso jamais terminasse...-sussurei em seu ouvido.
Ela sorriu.Apenas sorriu.
Precisava mais?
Volta e meia,eu repetia aquela frase em seus ouvidos,apertava-a contra mim e fazia planos para um futuro que não existiria sem ela ao meu lado.
Laurinha.Laurinha.Laurinha.
Minha doce Laurinha.
Voltamos para casa resfriados,mas felizes.Mesmo depois daquele dia,ficávamos ligando um para o outro,lembrando daquele final de semana,cada detalhe,as palavras apaixonadas trocadas entre um beijo e outro.Tudo acabou repentinamente quando o meu resfriado piorou e finalmente virou pneumunia das mais desagradáveis.
Numa noite,meus pais tiveram que sair comigo às pressas.Fui internado num hospital.
A coisa piorou de tal maneira que,alguns dias mais tarde eu estava indo para a UTI,mais pra lá do que pra cá,brigando com toda a sorte de dificuldades para continuar vivo.
Delirei.Entrei e sai do coma algumas vezes.Outras,experiementava os mais desagradáveis calafrios e espasmos.Chorava,desesperado e sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Laurinha...Laurinha...
Era nela que eu pensava.Era ela que eu chamava.Era ela que eu procurava sempre que abria os olhos.
Ela apareceu algumas vezes,preocupada,sem o sorriso que eu amava de paixão.Mas, quase sempre,era o meu avô, o professor,que eu encontrava.Ele e meus pais,todos desesperados.
Mesmo depois que finalmente consegui sair da UTI,o desespero continuou em seus rostos,algo maior do que o simples temor pela pneumonia que eu andara enfrentando nos ultimos dias.
Havia alguma coisa mais.
Pressionei um e outro,muitas vezes mas eles preferiam a saída mais fácil.
Quando,depois de uma de minhas perguntas,minha mãe saiu do quarto chorando,nem meu avô nem meu pai tiveram como esconder por mais tempo o que os deixavam preocupados.
Não,eles não disseram.Não tiveram coragem.
Chamaram o médico.Foi ele quem me contou.
-Nós encontramos o virús HIV em seu sangue-informou ele.
Tudo indica que a pneumunia seja apenas um primeiro sinal de uma infecção relacionada à AIDS.
-Como é que é?
A surpresa fi tão grande que nem sequer consegui forças para chorar ou para protestar,para gritar,para dizer ao médico que ele estava mentindo,que tudo não passava de um grande engano,de um erro.
Eu queria gritar que era mentira.Mentira.Mentira.Mentira.
Não consegui.
Enquanto o médico continuava falando, eu apenas fiquei abrindo a boca ,desnorteado,aterrorizado,balbuciando:
-Como é que é?

Mister Aventura


"A vida é curta para mais de um sonho." Distraídos Venceremos - Paulo Leminski

-Ei meu!Por que toda essa pressa?Vai salvar o pai da forca?
Eu nem ouvi e,mesmo que tivesse ouvido,nem teria dado importância.Eu gostava do vento batendo com força em meu rosto,o cabelo açoitando-o com violência,entrando em meus olhos.
Sorri,divertido.
Eu estava tão contente que não tinha olhos e muito menos ouvidos para qualquer outra coisa que não fosse a Sahara que rugia e estremecia entre meus joelhos.
A chuva fina e persistente seria apenas para aumentar a emoção que eu sentia com seu friozinho gostoso,aquela água gelada ensopando minha camisa,molhando meu cabelo,cobrindo-o com fina película brilhante.
Acelerei e sorri,divertindo-me com os outros que ficaram para trás,aborrecidos,reclamando.
Mais rápido.Mais rápido!
Quanto mais velozamente ela avançava,com mais força eu me agarrava a ela,como se ainda não acreditasse que era real,que estava em minhas mãos,rugindo promessas de felicidade e,principalmente de velocidade interminável.
Ela ronronava como um gato enfastiado,meu corcel poderoso e brilhante.
Há alguns meses eu andava esperando por aquela moto.Era uma promessa antiga que em várias ocasiões cheguei a imaginar que se perderia entre tantas feitas e,volta e meia,esquecidas.
Durante os últimos meses,cheguei a contar,dia após dia, o tempo que me separava dela.Passava pela loja e,dezoito incompletos,dia me separando da maioridade cobiçada commo um prêmio de valor inestimável,ficava namorando-a metálico.
Cavalo de ferro.
Acelerei com vontade e subi a Luís Góis com os outros bem atrás de mim.Caco aprouximou-se e gritou qualquer coisa que se perdeu no ronronar maravilhoso de Sahara.Alguns metros atrás Paulinho Maluco e Geninho xingavam.
No fundo,no fundo, acho que os tres estavam apenas morrendo de inveja.A minha Sahara era realmente linda.
A minha Sahara...
Naquele momento de recente e deliciosa intimidade,eu acreditava que podia continuar em cima dela pelo resto da vida.O melhor presente do resto da minha vida,pensei várias vezes.
Entrei acelerando na Domingos de Morais,os outros ora se aproximando,ora ficando pra trás.
Gargalhei.
Caco me xingou.
-Eu sou o Mister Aventura! -gritei-O gostosão da vila mariana!
-Você é o babaca que vai acabar quebrando o pescoço se não diminuir a velocidade!-resmungou Caco,muito aborrecido,equilibrando-se com alguma dificuldade na sua Tamaha.
-Você acha benhê?-perguntei, me divertindo com as preocupações dele e dos outros ainda mais.
Afastei-me.
Virando a cabeça e olhando para trás sorri,mas sorri cheio de felicidade.
Eu estava realmente muito alegre.
Dezoito anos,eu queria mais e todas as formas.Mister Aventura foi um apelido que apareceu como brincadeira e pegou mesmo.Todo mundo me conhecia.Aventura.Aventura.Aventura.
Eu tinha meu lugar no time de futebol de salão do colégio.Havia vários troféus dos muitos torneios e campeonatos de skate de que eu participara.Eu sempre fui presa fácil até da mais simples e rápida emoção.Fazia e participava de todas,mas as motos eram a minha grande paixão.
Por isso, imaginem a minha cara quando,completados os dezoito de uma responsabilidade inquestionável,eu recebi a chave da Sahara.
Novinha.
Desejada.
Minha.
Eu nem me preocupei com a chuva que caía e muito menos com a falta de documentação para girigi-la.Saí.Durante mais de uma hora rodei de um lado para o outro,vento frio batendo em meu rosto, a chuva fina molhando-o.
Puxa,como eu tava feliz!Como eu estava feliz!
Todo mundo tinha que saber.Fui de casa em casa.Caco,Paulinho,Geninho.Todo mundo tinha que saber.
Todo mundo viu.
Geninho chegou a ficar de olhos esbugalhados.Paulinho não resistiu e passou a mão várias vezes na Sahara.
-Beleza cara...beleza pura!-dizia de vez em quando,os olhos brilhantes de entusiasmo.
O Caco ficou remoendo uma indisfarçável inveja,de longe.
-Ainda levo mais fé na minha Yamaha - resmungou.
-Acha mesmo,Caco?
-Aposto qualquer coisa na minha menina.
-Que tal uma corridinha para vermos como é que é isso?
-Eu não sei não.Essa chuva...
-Chuvinha,meu,chuvinha...-Geninho adorava por lenha na fogueira.
-Então?Topas?
Ele topou.Relutantemente,mas topou.
Geninho e Paulinho apenas nos acompanhavam.A corrida era entre nós dois.Yamaha na frente,Sahara atrás.Sahara na frente e Yamaha atrás.A gente vinha se revezando na frente desde que saímos da casa dele,na rua Miraflor.Apenas eu ainda ria e me divertia com toda aquela correria.Caco já andava aborrecido e,vez por outra,resmugava qualquer coisa sobre pararmos com aquela loucura.
-Só se você disser que a minha Sahara é melhor que a...
Subtamente,ele me interrompeu,apontando para frente e gritando:
-Olha o carro!Olha o carro!
Quando eu me voltei para olhar,a porta de um dos carros parados num dos lados da rua já estava se abrindo e eu rumava velozmente para ela.O choque foi violento e inevitável.
Lembro-me apenas de que me senti violentamente arrancado de cima da moto e arremessado para o alto.Lembro-me do guinchar insuportavel de ferros retorcidos e da Sahara girando repetidas vezes no vazio,deslizando no asfalto molhado,com a parte da frente estranhamente sobre a porta do fusca no outro lado do vidro molhado do pára-brisa.
Lembro-me de ter visto o asfalto avançando rapidamente em minha direção e depois não me lembro de mais nada.
Mergulhei na mais absoluta escuridão.
Quando abri os olhos novamente,me vi estirado numa maca e atravessando rapidamente o corredor de um hospital, as luzes no teto passando depressa demais,ferindo meus olhos que,depois de algum tempo,apenas conseguiam entrever os rostos dos médicos e enfermeiros que empurravam a maca para frente.
Ele vai precisar de uma transfusão de sangue!
Aquela frase continuou alfinetando a minha conscieência durante algum tempo,antes que eu retornasse mais uma vez à escuridão.
Transfusão de sangue...
Transfusão de sangue...
Transfusão de sangue...

Mesmo Sem Ter O Que Fazer...

Hoje era para ser um dos dias mais chatos desde que voltei para casa, explico !
A segunda geralmente para todo ser humano é aquela coisa chata,trabalho,compromisso,escola,rotina pesada e stressante!
Aqui estou eu para dizer ao contrario da minha própria vida , segunda feira p/ mim é um dia super stressante mas não pelo caos da vida e sim porque não consigo achar um nada para fazer...Até as 14hs.

Nessa busca por algo,fui tentar estudar o sueco mas ainda não era aquilo que gostaria de fazer,então passei para algumas revistas,fuxiquei um armário velho e cheio de poeira quando encontrei um livro fino com o título de
"Enquanto Houver Vida Viverei" confesso que rapidamente passei a mão nele e comecei a ler...uma página,duas...
Quando dei conta sobre a minha segunda feira já estava longe,dando boas risadas e sobretudo abrindo meus olhos não só para um livro perdido,mas para os meus preconceitos,minhas dúvidas (que acredito que não são só minhas)...Enfim, quando percebi em 2hs estava na última página do livro chorando de emoção,de agradecimento por esse livro vim até a mim.
Foi quando eu pensei que podia publicar ele aqui, ele é curto e tão incrível que preciso modificar pelo menos a sociedade preconceituosa ( SIM,SIM!) dos meus amigos.
Continuo com algumas dúvidas mas tomaram outras dimensões....

Publicarei ainda hoje a primeira parte, eu espero que consiga divulgar todos os meus queridos a lerem essa fascinante história de um jovem.
Me ajuda nessa causa?


domingo, 18 de julho de 2010

"I believe in you and me...So, hold on to me tight."


É fácil falar da saudade quando lembro de você.
Tem gosto doce todas essas lembranças...Sinto saudades dos seus olhos,

da sua verdade,da sua fé...
Sinto falta até do que não me pertencia ou que talvez eu só sentia quando você estava presente.
Os finais de semanas eram contados pois sabia que um dia eu demoraria para te reencontrar novamente.

Sua ausência me dá força,suas palavras ainda me guiam...
Confesso que ainda é estranho recordar todos esse tempo que tivemos juntos,as vezes penso até que não foi verdade.

Perguntei a Deus então porque tanta aproximação?

E agora eu sei a resposta, você me mostrou o novo caminho a seguir é por isso que sou tão grata a você.É por isso que eu oro pela sua vida todos os dias,é por isso que preciso de você.

Porque eu sei que você é forte,sua alma brilha.Você é servo de Deus!

"Debbie, our real home isnt on the earth..."

Te agradeço por cada palavra,por cada risada,por cada memória...Te agradeço por ser meu amigo,te sinto perto mesmo estando longe.
Deus está olhando por nós e eu acredito com todo carinho que sinto por Ele, que Ele nós dará a felicidade plena e a sabedoria eterna.


Ele nos dará o amor que precisamos.

God Bless You!

domingo, 11 de julho de 2010

"You Captured My Heart With This Love"


Oieeeeeee!Hoje eu to afim de escrever hein?!Preparem-se! rs

Sabe que essa experiência continua cada dia me dando razões para acreditar no real motivo pelo qual voltei nesse lugar.Como escrevi para um de meus amigos suecos, escrevo aqui sem nenhuma vergonha : Conheci vários lugares,varias pessoas mas aqui conheci : Jesus.
Eu posso dizer do antes e o depois dessa viagem,modifiquei meu coracao,minha fé e meus olhos.

Como eu podia ser tão cega com esse amor?
Mas tudo bem, graças a DEUS ele me tirou de uma vida sem graça,só de lamentações baratas,rodeada de pessoas egoistas,hipocritas e muitas das vezes maldosas.

Tem uma parte da biblia que diz : "Nem todo mundo que diz acreditar em Deus vai ter a misericordia eterna..." E passei dias refletindo sobre isso,por muitas vezes nao entendia o porque as pessoas falavam com tanta sabedoria sobre Ele.Nao entendia o porque a vida delas mudava para melhor a cada oracao feita.
Por muitas vezes adorei outros 'deuses' por pura ignorancia.

Quando eu cheguei aqui tive interesse em ler a biblia,e eu nao conseguia ler de tanto que eu chorava,chorava feito crianca...Sentia uma dor dentro do meu coracao que eu nunca havia sentindo antes,foi quando eu percebi e senti que tudo tava sendo limpo para uma nova vida.Uma nova Deborah.
Se passaram dois meses desse dia e vi coisas que só Deus para explicar mesmo...Acredite, Ele nos dá uma sabedoria , uma paz , parece que eu nunca mais estarei sozinha, e de verdade, eu sinto que é algo tao poderoso que me faz aceitar suas vontades,porque eu sei que Ele nunca nos tira o que é merecido, Ele só tira o que não acrescenta.É o unico que você pode confiar de olhos fechados,o unico que vai estar te amando independente de qualquer palavra grosseira que sair da sua boca no momento de desespero...
Eu estou muito feliz por essa minha mudanca, por ter aceitado o amor de Deus em primeiro lugar na minha vida.

"Disse Jesus: Eu sou o caminho,a verdade e a vida..."
"E assim se alguém crê em Cristo,é uma nova criatura,as coisas velhas já passaram;eis que tudo se fez novo."
"Mas o caminho dos justos é como a luz do amanhecer,que vai brilhando mais e mais até ser o dia perfeito."

Quanta sabedoria Senhor!O minimo que posso fazer diante a tanto amor, é lhe entregar minha vida..Já que deu sua vida por mim.
E como diz uma música muito bonita do Third Day : Há descanso para o cansado, carinho pro desesperado,esperanca para o desacreditado,amor para os coracoes partidos,ele te alcançará onde voce estiver...apenas clame por Jesus.

Quer sua vida modificada?Coloque esse amor com tudo que voce pode em seu coracao.Ouça a voz de Jesus,não desista da felicidade plena.

Beijos e fiquem com Deus.
Debbie

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Its the time to say goodbye! :(

Nossa quanto tempo nao venho aqui,inumeras coisas ja aconteceram nesse periodo,todas maravilhosas como era de se esperar.
Nosso camping foi mega diveertido,passamos 4 noites acampanho e o camping da suecia é totalmente diferente de tudo que ja vi antes.Achei ate exagerado,mas é a cultura deles,right?
Recebemos visita do Frank..Grande Frank!Acho que vou sentir saudades dele quando voltar pra casa, imaginem num cara alto astral?Fizemos uma festa brasileira hoje aqui na casa dele, vou dormir por aqui pq to MEGA cansada.Preparei moqueca,farofa,mousse de maracuja,caipirinha,batida e caipiroska...Fiquei imensamente feliz que os convidados,que eu até entao nao conhecia,gostaram.Fiquei bobona,confesso...Receber elogios é sempre gostoso neh?
Pena que a festa nao teve um sabor tao legal,nosso brasil disse adeus a copa...mais um vez.Achei injustica,na verdade, tudo isso que é muito grande me intriga.Queria saber qual é a real dessa FIFA.
Minha experiencia por aqui esta infelizmente chegando ao final...
Amanha temos visita especial em casa, entao veremos filme com muita coisa pra pensar...Esses filmes que tenho visto, sao divinos.TODOS sobre JESUS, amo demais ver!

Enfim,vou dormir pq o sono chegou...
Inte
Dbs