quinta-feira, 29 de julho de 2010

Continuando...

-Agora somos iguais,não somos?
-Poxa vô, a gente tinha que transar para o senhor pegar AIDS-informei.
-Verdade?
-É...
-Você ainda está com as camisinhas que eu te dei?
-Claro.
-Então traga.Depois de você,seus pais e eu conversarmos seriamente sobre a sua doença,talvez eu possa satisfazer os seus desejos.
-Que é isso vô!
-Larga de ser besta comigo,rapaz.Nós temos muito o que conversar.
Fomos para a sala.Papai e mamãe estavam esperando por mim.
Vovô pediu que sentássemos,no início,apenas ele falou.
Mencionou o fato de eu estar enfrentando toda aquela situação sozinho e que era sob tais circustâncias que a familia tinha de se unir para ajudar-se muntualmente.
-Não é facil para ninguem saber que um amigo ou um parente está com esse vírus,mas fica ainda mais difícil quando cada um prefere sofrer sozinho ou fugir do problema como se ele pertencesse apenas àqueles que contraiu o vírus.
Pouco a pouco,cada um foi falando.
Meu pai foi mais prático .Falou no AZT.
-Ele é caro,mas é o antiviral mais eficiente para manter em dia suas defesas imunológicas.É claro que,como todo remédio,ele tem lá seus efeitos colaterais,mas ainda é melhor e o mais indicado para o tratamento.Nós vamos ganhar essa batalha,filho.Tem muita gente pesquisando a AIDS no momento e ,mais dia menos dia,alguém descobre a cura para a coisa.É sempre assim.A lepra foi flagelo do mundo durante séculos,mas hoje é curavel,perfeitamente curavel.A siflis e a turbeculose provocavam as mesmas reações das pessoas há pouco mais de cinquenta anos.Era quase uma condenação à morte.E hoje em dia...
Eles continuaram falando.Os três,papai,mamãe e vovô.Alívio era mais verdadeiro e confiável do que entusiasmo ou esperança.Todos estavam procurando me deixar à vontade,recuperar um tempo perdido em autocomiseração e sofrimento.
-Eu ainda tenho muito medo,Tinho. -admitiu Helô sem conseguir esconder seu constrangimento. -Eu não sei como lutar contra isso.Eu tentei,tentei...mas é algo mais forte tão...tão..tão...
-Humano?-contrapus.
Ela me abraçou carinhosamente,chorando.
-Desculpe-me...desculpa-me...mas eu tenho muito medo!
-Afastei-a e sorri,compreensivo.
-Eu também,mana,eu também...
Nós ainda conversamos por um bom tempo.Quando não havia mais nada a se conversar e sobre o que falar,meu avô me acompanhou de volta ao meu quarto.
-Você pode fechar-la de uma vez por todas ou resolver os problemas de frente agora em diante-disse ele,apontando para a porta-A decisão é só sua!
É,eu fiquei sozinho com minha decisão.
-Recusa apenas lamentar a morte-acrescentou,enquanto se afastava-Nós dois sabemos que é perda de tempo.
Eu resolvi parar de ter pena de mim mesmo.Deixei a vergonha de lado-afinal de contas,eu tinha AIDS,e daí?Não era culpa minha.Não era motivo para eu ficar me culpando por um crime que não havia cometido e,pior,do qual era a principal vítima.Agarrei-me com forç e até com desespero a toda coragem que pude encontrar e enfrentei o primeiro teste de verdade.
Fui para o colégio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário