terça-feira, 27 de julho de 2010
Continuando...
Muitas vezes eu confundia os sintomas de um doente de AIDS com os de alguém infectado com o vírus da AIDS.Parece a mesma coisa mas não é.
Uma pessoa atingida pelo vírus da AIDS,o chamado HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), pode permanecer assintomática,apresentar sinais e sintomas parecidos com uma infecção tipo viral aguda,manifestar um quadro clínico inespecífico como gânglio aumentados,febre persistente,diarréia prolongada e emagrecimento importante sem uma causa direta a que possa ser atribuído e,finalmente,apresentar-se com doença neurológica (encefalopatia),infecções graves e determinados tipos de câncer,em estágios da doença.
Mas tudo era muito confuso para mim.Às vezes, os sintomas de doenças simples como gripe ou bronquite podem ser confundidos com um doente de AIDS.Aos poucos,no entanto,eu fui me tornando um especialista.
Por exemplo,na AIDS tais sintomas são persistentes.Esta é a pequena mas significativa-bota significativa nisso-diferença.Além do mais,um sintoma isolado não significa que o sujeito esteja com AIDS.
Uma pessoa infectada com o vírus muitas vezes não apresenta sintoma algum,sente-se muito bem.Talvez fosse o meu caso,talvez não.
Santa dúvida,Batman!
Eu lera em uma revista que as pessoas que ainda não tinham desenvolvido a doença eram clinicamente sadias.Levavam até uma vida normal,trabalhando,estudando e se divertindo.
Talvez a comparação mais aproximada da existência seja com a daqueles condenados à morte que ficam até anos presos nas celas do "corredor da morte",esperando a sua hora.
Apesar de tudo,a situação era altamente desconfortável.Saber que se vai morrer,e não saber quando,é algo extremamente doloroso.
Como fazer planos para o futuro?
Como encontrar ânimo para,por exemplo,fazer uma prova de vestibular?
Como se relacionar com o preconceito e os temores das pessoas?
É uma coisa assustadora.
60% dos portadores da AIDS manifestam a doença até seis anos depois de contrair o vírus e 40% conseguem um pouco mais de tempo,carregando-o por nove ou mais anos,sem apresentar sintomas.Apesar disso,70% dos aidéticos brasileiros morrem até dois anos depois de manifestar os primeiros sintomas da moléstia.
Eu ficava lendo tudo isso,estatísticas,números frios mas inquestionáveis,e ia sucumbindo vagarosa mas inapelavelmente ao meu próprio fim.
Alguns diziam que isso era pior.A depressão,a melancolia serviam apenas para apressar as coisas.
Não sei,não,mas muitas vezes pensei nisso.Bastava eu ver aquelas fotos terríveis de aidéticos em estado terminal,para eu me apavorar e preferir qualquer coisa àquilo.
Até mesmo o suicídio.
É, foram meses verdadeiramente selvagens,de solidão opressiva e angústia interminável.
Certa vez,cheguei a pegar um vidro de tranquilizantes que minha mãe passara a tomar,desde que soubera que eu contraíra AIDS, e pensei em engolir uma quantidade boa de pílulas.Eu tinha acabado de ler que um cara em Los Angeles tinha feito isso depois de saber que estava com AIDS e morrera bem rapidamente,praticamente sem dor.Acabei desistindo.Não sei porque.Eu simplesmente não consegui.
Noutra vez,como eu andava procurando algo ou alguém colocar a culpa pela minha desgraça,quebrei minha Sahara.Eu dei uma bela acelerada e a joguei contra o muro do vizinho.Depois,percebendo que aquilo não me levaria alugar nenhum,pior,que não me curaria,fiquei olhando para ela,chorando como um bobalhão.
Minha nossa, como eu sofri!
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